sexta-feira, 29 de junho de 2012

Por que a geração y tem tanta dificuldade para argumentar?

    Tive o prazer de assistir pela primeira vez ao programa Conexão 4 x 4, em sua segunda edição,  veiculado pelo ClickCarreira. Rico em experiências e expectativas de jovens talentos e gestores de RH, o que me chamou a atenção foi a observação da mediadora do evento, Sofia Esteves, presidente da DMRH, ao final do programa, dizendo que um dos maiores problemas dos jovens nos processos seletivos era a falta de capacidade argumentativa em dinâmicas e entrevistas.

    Refleti, pensei nos jovens com quem convivo no trabalho, amigos e parentes e me parece que a observação da especialista tem todo fundamento. Mas por que essa geração tem dificuldade para argumentar, defender suas ideias com acesso a tanta informação? Lembrei da excelente palestra que Sidnei Oliveira fez no Monster, e de seus livros sobre a geração Y. Uma geração formada pelo vídeo game, nativa da web e com uma incrível capacidade de inserção nas novas tecnologias. Bingo!

    Ao longo dos últimos 20 anos, assisti e vivi como jornalista a redução drástica dos textos. É preciso comunicar rápido. Nos blogs, a recomendação é de quatro parágrafos e se possível, muitos bullets. Dar dicas. Nas redes socais, no twitter, a informação tem que ser veloz e aqui não vai nenhuma critica. Participo da blogosfera, gosto, trabalho com mídias sociais e acho um cenário maravilhoso de troca de informação em todos os âmbitos. O “Meio é a mensagem”, já teria previsto tio McLuhan décadas atrás.  

    Ganhamos volume, mas perdemos um pouco da profundidade. Lemos muito menos literatura, a produção cinematográfica é criada para atingir um público de 13 a 35 anos (oi?). Os filmes “adultos” ou de “arte” ganham cada vez menos espaço. E a capacidade de argumentação vem justamente da experiência da complexidade, da riqueza da linguagem, dos sentimentos humanos. É nesse mergulho de palavras, de narrativas que vão “Além do Bem e do Mal”, para citar outro autor maravilhoso, Nietzsche, que estão as pecinhas que vão acrescentar nosso argumentos, nossas crenças, nossos valores, dar um tempero à nossa individualidade, em tudo o que fazemos e na forma como nos relacionamos com o outro. Nossa marca.

    Assisti várias palestras de Carlos Faccina no CONARH, maior congresso de RH da América Latina, executivo que fez uma carreira brilhante na Nestlé como diretor de RH e hoje possui sua própria consultoria, a Intuitiva Business (o nome já diz tudo!). Apesar de uma experiência fascinante no ambiente corporativo, Faccina fala em suas apresentações sobre a importância da emoção, da sensibilidade, de exercer sua vida profissional com paixão. Todo mundo chora.

    Lista sempre os livros que não podemos deixar de ler para melhorar a performance como gestores de pessoas: Guimarães Rosa, Gilberto Freyre, Machado de Assis, Fernando Pessoa e uma série de autores de obras clássicas da literatura. Em sua experiência, afirma que melhores gestores são melhores pessoas, atentas à profundidade humana. São aquelas capazes de sentir o outro, compreendê-lo em toda sua riqueza e complexidade.

    Então fica a dica. Nessas férias, não exclua o prazer de estar nas redes sociais. Mas guarde umas horinhas para mergulhar de cabeça em alguns grandes romances clássicos, suspirar, fechar um livro no meio para poder pensar no sofrimento ou a conquista daquele personagem. Mergulhe na humanidade dessas obras. Sem perceber, estará esculpindo aquilo que o fará autêntico e apaixonado pelas suas ideias. E com melhor capacidade de sustentar os próprios argumentos. Um humano diferenciado.

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